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Selecionar espécies e técnicas para recuperação das margens e matas ciliares dos rios próximos à região de vazamento dos rejeitos da barragem de Fundão, em Mariana (MG), é o objetivo da pesquisa do professor Paulo Henrique Peixoto, do Departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O projeto, gerenciado pela Fundação de Apoio e Desenvolvimento ao Ensino, Pesquisa e Extensão (Fadepe), pretende contribuir para atenuar os danos causados pelo desastre ambiental no Rio Doce.

O estudo intitulado “Análises ecofisiológicas e bioquímicas dos efeitos da lama da barragem de rejeitos de Fundão sobre o desenvolvimento de leguminosas de mata ciliar e de uma espécie adaptada ao estresse por ferro” teve início em janeiro de 2017. Segundo Peixoto, o projeto faz parte de um esforço que o Estado de Minas, através da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), e o Governo Federal, pelo Centro de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), estão fazendo para tentar compreender e reduzir os efeitos sociais, ambientais e econômicos do rompimento da Barragem de Fundão, que ocorreu em novembro de 2015. “Espera-se que os resultados obtidos com o desenvolvimento do projeto permitam a seleção de espécies e técnicas mais adequadas à recuperação das margens e das matas ciliares dos rios próximos à região de vazamento dos rejeitos”, explica o pesquisador.

(Fotos: arquivo pessoal)

Mudas preparadas para o plantio nas margens do Rio Gualaxo (a), em Barra Longa (MG); transporte (b e c); encontro dos rios Gualaxo e do Carmo, próximo a Barra Longa (d) e planta de leguminosas arbóreas estabelecidas nas margens do rio Gualaxo (e, f, g, h, i) – (Fotos: arquivo pessoal)

De acordo com o Peixoto, até o momento foi possível observar, com uma das espécies estudada, que o crescimento das plantas é inibido pela lama, especialmente nas áreas de concentração mais alta de rejeito. “Esses resultados, que tendem a se repetir para todas as espécies estudadas, mostram que, para a recuperação das áreas afetadas, a retirada da maior parte do rejeito e/ou a mistura do mesmo com solos ou materiais de elevada fertilidade é fundamental”.

Ainda segundo a pesquisa, os exames do rejeito puro realizados em laboratórios de análises de solos mostraram fertilidade reduzida e presença de concentrações altas de ferro e alumínio, que, em excesso, são prejudiciais para o desenvolvimento das plantas. Os efeitos a longo prazo desses elementos sobre o crescimento das plantas, especialmente das árvores, ainda precisam ser realizados. O mesmo deve ser feito em relação aos microorganismos do solo, que apresentam influência direta sobre o desenvolvimento vegetal.

Os resultados do projeto deverão determinar as respostas das plantas das diferentes espécies em relação à atividade fotossintética e ao metabolismo antioxidativo, parâmetros que poderão explicar os efeitos da lama da barragem de Fundão sobre o desenvolvimento das plantas. Dessa maneira, pode-se indicar os procedimentos e atividades necessárias para tornar possível a recuperação das matas ciliares nos rios afetados pela deposição da lama de Fundão em suas margens.

Trabalho de campo

O trabalho de campo da pesquisa foi feito em parceria com o proprietário das fazendas Ocidente 1 e 2, localizadas às margens do rio Gualaxo, no distrito de Gesteira, município de Barra Longa (MG), afetadas pelo rompimento da barragem. Nelas, foi realizado o plantio de 30 mudas de seis espécies de leguminosas arbóreas e de pitanga.

Sementes e mudas usadas no preparo dos experimentos em campo e na casa de vegetação da UFJF; sementes germinadas em caixas gerbox, plântulas em desenvolvimento; plantas em desenvolvimento na casa de vegetação (Imagens: acervo pessoal)

Sementes e mudas usadas no preparo dos experimentos em campo e na casa de vegetação da UFJF (a e b); sementes germinadas em caixas gerbox (c e d), plântulas em desenvolvimento (e, f); plantas em desenvolvimento na casa de vegetação (g) – (Imagens: acervo pessoal)

Cinco espécies de leguminosas arbóreas estão sendo avaliadas quanto às taxas de crescimento, às atividades fotossintéticas de trocas gasosas e de fluorescência, além de parâmetros bioquímicos como o teor de pigmentos, atividades enzimáticas e metabólica do sistema antioxidativo, além dos teores de carboidratos e prolina. Os mesmos parâmetros estão sendo avaliados em plantas de crotalária e mucuna-preta, utilizadas para o melhoramento das condições de fertilidade dos substratos antes do plantio das mudas de leguminosas arbóreas. Da mesma forma, estão sendo avaliadas as pitangueiras, espécie relativamente tolerante ao ferro.

As diferentes espécies foram plantadas em solo onde os rejeitos encontram-se depositados em camadas. Os dados obtidos em campo serão confrontados com os encontrados nos estudos realizados em condições controladas, em casa de vegetação, na UFJF.

O projeto tem duração inicial de dois anos, mas segundo Peixoto, em função das implicações e do alcance do desastre, a expectativa é de que novos estudos venham a ser realizados. “Talvez os efeitos dos impactos causados pelo rompimento da barragem de Fundão venham a ser verdadeiramente conhecidos em algumas décadas. O mesmo pode ser previsto para a recuperação das áreas afetadas”.

 

Fonte: UFJF

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